Em seis meses, Projeto Aruanã recebeu quase cem registros de tartarugas marinhas a partir da participação da população no Programa de Ciência Cidadã.
Entre os meses de outubro de 2022 e março de 2023, o Projeto Aruanã recebeu imagens de 193 tartarugas marinhas, registradas em foto ou vídeo em 99 ocasiões diferentes pela costa brasileira, majoritariamente no Rio de Janeiro. Envolver a sociedade na coleta de informações científicas sobre as tartarugas marinhas da Baía de Guanabara e águas costeiras adjacentes é um dos objetivos do Programa de Ciência Cidadã do Projeto Aruanã, que conta com a parceria da Petrobras por meio do programa Petrobras Socioambiental. A ideia é incentivar que as pessoas registrem encontros com tartarugas marinhas, vivas ou mortas, por meio de foto ou vídeo e enviem as informações para o projeto, seja pelas redes sociais, pelo site ou por contato direto. Essa participação, além de permitir a coleta de informações sobre as tartarugas marinhas em ampla escala espacial e temporal, ao mesmo tempo, contribui para a conscientização da sociedade sobre as ameaças a que as tartarugas marinhas estão expostas e a importância da conservação ambiental.
Do total de registros, 55% eram tartarugas vivas, sendo que 4% estavam debilitadas. Os outros 45% foram de animais mortos. Apesar de uma redução dos registros em fevereiro, esse foi o mês com o maior número de indivíduos avistados, já que em apenas um dia, em Rio das Ostras, Região dos Lagos do Rio de Janeiro, aproximadamente 70 filhotes de tartarugas eclodiram e foram fotografados e filmados em seus caminhos em direção ao mar.
Todas as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil foram reportadas, com predomínio de juvenis de Chelonia mydas, popularmente conhecida como tartaruga-verde, que aparece em mais de 80% das vezes. Mesmo em menor quantidade, as outras quatro espécies também foram fotografadas e/ou filmadas em nosso litoral, são elas: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e a tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea). Estes registros foram feitos em 16 municípios de três estados brasileiros, sendo que mais de 90% deles foram no estado do Rio de Janeiro, concentrados nas cidades de Niterói (44%), Rio de Janeiro (18%), Búzios (10,1%) e São Gonçalo (8,1%). O grande predomínio de registros em Niterói reflete o histórico de atuação do Projeto Aruanã na cidade.
Dentre os registros reportados, também cabe destacar 12 casos de interação evidente com pesca, 6 casos de interação evidente com lixo, 6 registros de fibropapilomatose, 3 registros de amputação e/ou perda de mobilidade de nadadeira e 6 registros de colisão com embarcação. De fato, a interação com a pesca e com lixo são as principais ameaças a que as tartarugas marinhas estão expostas mundialmente. A fibropapilomatose, por sua vez, é uma doença caracterizada pela presença de tumores benignos e sua manifestação tem sido associada à queda de imunidade em decorrência da poluição. Dessa forma, a presença ou não de fibropapilomatose em tartarugas marinhas pode ser considerada um indicador de saúde e qualidade ambiental.
Além da captação da imagem da tartaruga, também busca-se saber local, data e horário onde o registro foi feito, tamanho aproximado, presença ou não de alguma marca aparente ou doença, como a fibropapilomatose, entre outros aspectos. Essas informações, adquiridas por meio das notificações da comunidade, reforçam a importância desse tipo de trabalho na construção de um banco de dados científico, com o objetivo de mapear áreas de ocorrência e uso de hábitat pelas tartarugas marinhas, sua condição de saúde e ameaças. Assim, pode-se contribuir para a identificação de medidas prioritárias para conservação, não só das tartarugas mas dos ambientes marinhos e costeiros em geral.