A campanha de engajamento da população para a conservação das tartarugas marinhas por meio da Ciência Cidadã contribui para o estudo sobre a ocorrência destes animais na região da Baía de Guanabara e áreas costeiras adjacentes.
Em um ano do Programa de Ciência Cidadã, o Projeto Aruanã alcançou um importante resultado: no período de outubro de 2022 a outubro de 2023, a equipe do projeto recebeu 302 registros de tartarugas marinhas, através de fotos ou vídeos, totalizando 439 indivíduos. Os dados são fruto de uma campanha de Ciência Cidadã do Projeto Aruanã, que conta com a parceria da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O objetivo é incentivar a comunidade a registrar em imagens ou vídeos qualquer encontro com estes animais, estando eles vivos ou mortos, e enviar as informações à equipe do projeto através das redes sociais, site institucional ou número de celular.
Além de promover a coleta de informações sobre as tartarugas marinhas em ampla escala espacial e temporal, o Programa de Ciência Cidadã também visa contribuir para a conscientização da sociedade sobre as ameaças a que as tartarugas marinhas estão expostas e para a importância da conservação ambiental. Outro objetivo do programa é abastecer um banco de dados científicos georreferenciados do Projeto Aruanã sobre as tartarugas marinhas na região da Baía de Guanabara e águas costeiras adjacentes.
Além da captação da imagem da tartaruga, também são fundamentais as informações sobre o local, data e horário onde o registro foi feito, tamanho aproximado do animal, presença ou não de alguma marca aparente ou doença, como a fibropapilomatose. Através das informações obtidas pelo Programa de Ciência Cidadã, o projeto visa mapear as áreas de ocorrência e concentração das espécies, utilização de habitat, além de avaliar as condições de saúde e de possíveis ameaças às tartarugas marinhas.
Imagens de filhotes de tartarugas-cabeçudas
A diferença entre o total de registros e o de indivíduos deve-se, principalmente, às imagens recebidas de 70 filhotes de tartarugas-cabeçudas (Caretta caretta) que eclodiram de seus ovos em uma praia de Rio das Ostras, em fevereiro de 2023. Assim, em um único registro, dezenas de tartaruguinhas foram contabilizadas.
Do total de 439 tartarugas registradas, 57,6% eram animais vivos, sendo que neste grupo, 2,5% estavam debilitados e foram encaminhados para reabilitação. Já os indivíduos mortos somaram 42,4%. As cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil foram reportadas nas imagens enviadas pela comunidade, com predomínio de juvenis de Chelonia mydas, popularmente conhecida como tartaruga-verde ou tartaruga-aruanã, tendo sido documentada em 72% dos registros. Em segundo lugar, aparecem 22% de tartarugas-cabeçudas (Caretta caretta) e, em número bem menor, 2% de tartarugas-oliva (Lepidochelys olivacea), 1% de tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e 1% de tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea), além de 2% de indivíduos sem informação quanto à identificação taxonômica.
Cabe ponderar que o percentual de tartarugas-cabeçudas foi proporcionalmente elevado em virtude dos filhotinhos eclodidos em Rio das Ostras, que fizeram com que a contagem de indivíduos dessa espécie tivesse um incremento expressivo.
Niterói: a maioria dos registros foi feita no município fluminense
Os registros contabilizados pelo Projeto Aruanã foram feitos em 19 municípios de 5 estados brasileiros, sendo 14 cidades do Rio de Janeiro (96,4%), 4 de Pernambuco (1,3%), 2 da Bahia (0,7%), 1 do Espírito Santo (0,3%) e 1 de Santa Catarina (0,3%), além de 3 registros sem informação quanto à localização (1%). A maioria dos registros concentrou-se em Niterói (55%) e no Rio de Janeiro (18,5%). O grande predomínio de registros em Niterói é um reflexo do histórico de atuação do Projeto Aruanã no município fluminense.
Além disso, foi possível verificar, com base na análise das imagens recebidas, 29 casos de interação evidente com pesca, 24 registros de fibropapilomatose, 12 registros de possível colisão com embarcação e/ou interação com hélice, 11 casos de interação evidente com lixo e 4 registros de amputação e/ou perda de mobilidade de nadadeira. De fato, a interação com a pesca e com o lixo são as principais ameaças a que as tartarugas marinhas estão expostas mundialmente. A fibropapilomatose, por sua vez, é uma doença caracterizada pela presença de tumores benignos e sua manifestação tem sido associada à queda de imunidade em decorrência da poluição ambiental. Esse conjunto de informações reforça a importância do monitoramento desenvolvido pelo Projeto Aruanã, que pode subsidiar medidas prioritárias para o trabalho de conservação, tanto das tartarugas marinhas quanto dos ambientes marinhos e costeiros.