As tartarugas capturadas com o apoio dos pescadores da Reserva Extrativista Marinha de Itaipu são medidas, pesadas e marcadas para o monitoramento que é realizado pelo projeto há dez anos.
A partir do próximo dia 10 de outubro, o Projeto Aruanã estará na praia de Itaipu, em Niterói/RJ, para mais uma temporada de capturas intencionais das tartarugas marinhas que vivem na área da Resex-Mar Itaipu. Junto com os pescadores locais, os pesquisadores e voluntários do Projeto Aruanã, que conta com a parceria da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, capturam os animais em uma rede especialmente confeccionada para esta finalidade e fazem o trabalho de monitoramento, com a marcação, medição, pesagem e imagens para fotoidentificação, além de uma avaliação quanto à condição de saúde e coleta de tecido para pesquisas científicas.
O monitoramento de tartarugas marinhas na Praia de Itaipu érealizado nos meses de abril e outubro, em um total de aproximadamente 8 dias de captura a cada temporada. Essa metodologia já foi testada e aprovada pelo Projeto Aruanã e vem sendo aplicada desde 2013. Através das marcas e/ou da fotoidentificação, pode-se identificar indivíduos residentes e acompanhar o desenvolvimento deles, permitindo avaliar parâmetros populacionais como estimativas de abundância, taxa de recrutamento, mortalidade e/ou emigração e taxa de crescimento.
Essa atividade, com foco no monitoramento das tartarugas marinhas na RESEX Marinha de Itaipu, ocorre na praia de Itaipu e pode ser acompanhada pelo público em geral. O projeto pretende alcançar cerca de 500 pessoas ao longo dos 32 dias de captura (total estimado nos 2 próximos anos), incluindo visitas de escolas.
Análise genética e isótopos estáveis
A partir das capturas, também são coletadas amostras de tecido para análise de genética e de isótopos estáveis. A análise genética permite identificar a origem natal dos indivíduos encontrados na região, já que o litoral do Rio de Janeiro é uma área de alimentação para os animais da espécie Chelonia mydas, popularmente conhecida como tartaruga-verde, que se reproduzem em ilhas oceânicas do Atlântico Sul. Nestas agregações para alimentação, indivíduos de diferentes origens/populações reúnem-se temporariamente numa mesma região caracterizando assim o chamado estoque misto. O acesso à composição genética desses indivíduos de diferentes origens tornou-se uma das prioridades de pesquisa para esta espécie de tartaruga marinha, juntamente com o entendimento da conectividade entre as populações e de seus padrões de migração, sendo essenciais à definição e implementação de estratégias de conservação bem-sucedidas para a espécie.
A análise de isótopos estáveis é usada para o estudo dos padrões migratórios dos indivíduos, visto que é possível identificar padrões específicos que caracterizam diferentes recursos alimentares e regiões do planeta frequentados, inferindo assim padrões de movimento dos indivíduos que viajam entre diferentes ecossistemas ou atestando sua residência.
Fibropapilomatose
O estado de saúde desses animais também é acompanhado com foco na prevalência de fibropapilomatose (FP), sua progressão e regressão. A fibropapilomatose é caracterizada pela presença de massas tumorais benignas que podem variar em tamanho, morfologia e localização no corpo da tartaruga marinha. Podem ocorrer tanto externamente (mais comum) quanto internamente (em órgãos) e, dependendo da área afetada e do tamanho dos tumores, podem comprometer a sobrevivência dos animais. Desde o primeiro relato, na década de 1980, a doença vem sendo identificada em todo o mundo, principalmente em regiões tropicais, sendo a prevalência e frequência de ocorrência influenciadas também pelo esforço de acompanhamento por parte de instituições de pesquisa, que vem aumentando substancialmente nos últimos anos. Alguns fatores externos podem funcionar como agentes promotores da doença, como por exemplo, a poluição do ambiente em que as tartarugas vivem. Existem estudos em todo o mundo que apontam que, em lugares mais poluídos, a incidência da fibropapilomatose é maior, e afeta principalmente indivíduos juvenis de tartaruga-verde, que é a espécie de hábito mais costeiro, entrando em baías e estuários e, consequentemente, estando mais exposta à interação com a poluição.